terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Chovia.

Chovia forte. 
Nenhuma janela molhada. Nenhuma planta, sequer. O chão estava seco.
Alagado estava o coração da menina. Daquela menina frágil e vulnerável. 
O barulho da água do chuveiro batia no chão de piso branco, um desses qualquer, e confundia-se com o da chuva.
Ela já não sabia se conseguia se ouvir. 
Quatro de janeiro de dois mil e quinze, na mesa: a cevada que serviria em breve de petisco àquela conversa que no improviso mudaria a vida dos dois, na árvore ao lado: pássaros que comiam as explicadas laranjas, no rio que beirava: cheiro de tarde.
Ela, enquanto olhava o rio, levava vez ou outra o copo à boca para pequenos goles, segurando o choro e balbuciava palavras que saiam com uma voz engasgada.
Ele, a olhava firme e falava sobre o quanto o projeto político seria impactado.
Tudo era apenas possibilidade, mas ninguém esperava por tal conversa naquela tarde de domingo.
Os corações bateram mais rápido, as mãos se encontraram apertadas ao meio da mesa, o pôr do sol despencava da paisagem, a água sumira como que com o apagar de uma borracha, o vestido de malha branco, a camisa de saco e o shorts também brancos iam pelo vento.
Os olhares se encontraram, refletiram malas, dor, incerteza, medo.

Decreto

Decretado está: que o medo não mais se instale! Mas, quem é que pode com as memórias?
E me acompanha as noites os cigarros. Dos denominados mais fortes.
Não sei se há de fato mais ou menos fortes, todos fazem muito mal e eu sei.
Portanto, dispenso conselhos.



Não adianta, eu saio, dou uma volta... E sempre acabo aqui.
Coloco de novo aquele música e me desfaço  - talvez essa seja minha condição natural. 
As paredes gélidas voltam a me ouvir, mas elas não falam. - Não queria que falassem mesmo, seriam chatas como as pessoas.
Esse lugar é meu por natureza e eu não quero que ninguém entre! Que ninguém me veja, que ninguém exista!
Fiz a opção pelo silêncio. Silencio tudo. Faz um barulho enorme em mim. 


"Dei quase cinco passos e parei"

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Da dor:

O mundo, que outrora parava para nosso amor sob a luz da lua, na ponte de madeira daquele rio longe, parava agora naquele colchão cheio de marcas de uma noite - que sabíamos - perigosa, para não voltar mais. Parava para o fim. Parava para a dor. 
Seu olhar de poesia era naquele instante de poesia triste. Da mais melancólica espécie. 
E eu o olhava também, queria matá-lo, amá-lo, dizer que o odiava, que o amava, que nunca mais o queria ver, que não se afastasse um segundo sequer, que nunca mais me tocasse, que o queria pra sempre. Não disse nada.
Fitei-o com olhos mergulhados em lágrimas. Nas ais amargas e tristes lágrimas.
E o mundo ali, parado.


"Todo chão se abre." 

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ponto

Houve flores. Ouça. Não, você nunca ouve. Esquece. Sério, não precisa. Me deixa, e fecha a porta. Não gosto mesmo. É. Que ninguém entre. Ah, vocês esperavam que eu ficasse a vida toda mendigando atenção? Erraram. Vai embora, por favor. Precisei, um dia. No passado. Ei. Deixe o vaso assim, aí, vazio. Preciso lembrar que houveram.


"As flores de plastico não morrem"